sexta-feira, 11 de setembro de 2009




Ai galera, escrevi algumas cartas enquanto estava internado, vou tentar publicá-las no blog.


Apesar de todo sentimento de segurança que finca meus pés no chão e me dá uma serenidade a cada nascer do Sol, por vezes tenho pensamentos que algumas vezes negativizam esta minha atual condição.

Refletindo sobre os meus dias ainda em Aracaju e em sequência os meses passados na estrada, começo a perceber os fatos que me impediam de conhecer e confiar plenamente nas pessoas.

Confiava e amava os meus amigos (e ainda continuo a confiar e amá-los), no entanto alguns deles sabem como eu era desconfiado e julgava precipitadamene novas amizades mesmo que meus modos impulsivos e espalhafatosos camuflassem essa realidade.

Mas só eu e os mais próximos percebiam o que se escondia por de traz de todo aquele alarde. Não que eu fosse falso ou que meus sentimentos de se valorizar uma boa amizade não fossem reais, mas dentro de mim ocorria um estrondoso embate que muito me perturbava.

Nos primeiros meses de viagem, Barba conviveu pacientemente com essas inseguranças e lembro que quando de seu último conselho sobre minha escolha não fazia mais que tentar me ajudar.

Seguindo com os 4 maravilhosos aventureiros, estes também encararam por algumas semanas este Coelho; no entanto havia um diferencial.

Seus pertinentes hábitos de se manterem sempre calmos, de não procurar atormentar seus seus dias com qualquer esquentar de cabeça passaram a transformas meus valores.

Quando tivemos que no separar, vi a oportunidade de realizar um dos meus anseios: encarar as dificuldades do dia a dia apenas com minhas próprias escolhas, tendo que me responsabilizar sozinho quando de um erro.

Minhas primeiras horas foram complicadas pois mesmo que já possuísse a capacidade de manguear sem nenhum problema; viajar com uma perna seriamente inflamada e uma febre incessante pareciam barreiras impossíveis de se contornar.

Pretendia fazer a viagem o mais rápido possível até chegar à Rancharia. mas tendo chagado a enorme Uberlândia já no início da noite e consequentemente impossibilitado de conseguir passagem até a próxima cidade, tremi ao ver minha perna inchando a cada hora; pensando ainda na possibilidade de ter que passar a noite na rodoviária da então cidade e para completar tendo uma bicicleta como fardo.

Enquanto lia Microfísica do Poder, onde Michael Foucoult descia o pau nas instituições filantrópicas, eis que depois de tantos pedidos de ajuda não atendidos me aparece uma jovem me oferecendo um prato de sopa. Rejeito a ajuda, mas contando minha história para ela e para um senhor negro que só agora lembro que se chama Ditão, sou colocado numa Combi junto com minha guerreira e sou levado até o hospital.

Lá sou informado da seriedade do caso e que teria que ficar internado alguns dias.

Mal entrei na sala de curativos recebo diversas sequência de injeções por todo o corpo mais a introdução de uma torneira verde em uma das minhas veias do braço direito.

Vou dormi e logo às 6 da manhã vou tomar uma bela ducha d'água quente para tirar o encardido de mais de 3 dias. Logo depois do banho começo a ler propositalmente a obra Admirável Mundo Novo e depois passo a escrever meu adormecido diário de viagem desde Brasília.

Quando já próximo ao cair da noite me deparo com uma situação dramática sobre o sentido de se viver, a qual fiz questão de relatar em 2 páginas que mais tarde se transformariam em madrugadas em claro escrevendo sobre tantas coisas do mundo.

Foi ai que comecei a sentir as consequências de minhas escolhas iniciadas a 3 meses atrás.

Sentia as palavras postas no papel tomarem vida e passarem a transformar meus gestos, meu olhar, o tom de minha voz e a revolucionar as incertezas de outrora que me levantava um muro me separando das maravilhas de se fazer um amigo a cada hora.

Escrevia diversas cartas; para as enfermeiras; para os pacientes; para a bela Francielle; para a minha mãe (esta tão sincera que enquanto esparramava as palavras por sequências de horas, quando o Sol ainda não havia subido para a imensidão azul, me levou à prantos).

A cada ideia concluída passava pacientemente à limpo todas as palavras, dispensando por fim mais da metade do dia para escrevê-las, lê-las, relê-las, reescrevê-las, relê-las... distribuindo para pessoas que nunca vi e provavelmente jamais as verei.

Mas este mesmo sentimento de segurança me faz pensar sobre seu significado. Como disse no início da carta, reflito minha atual condição e fico incerto o que seria tudo isso e até quando vingará.

Isso é chato! É como que parte de um negativo passado sobrevivesse em meio a imensidão de felicidade que estou sentindo. Mas aí conversando os meus borbotões, chego a conclusão que isso nada mais é que eu mesmo e caso seja uma fase: que passe; mas que fique as lembranças e os aprendizados.

Nas intermináveis amizades que faço nos corredores, me contento ao perceber que minha alegria são suas alegria, que minhas certezas se transmutam em suas certezas. Isso é bom!

Ainda que surja alguns entraves para minha estadia na cidade, calmamente respondo para aqueles que ouvem meus relatos as palavras que tanto ouvia de meus saudoso 4 amigos:

- Não mas eu tô de boa; tô numa rilax, numa tranquila, numa boa. ( 3 últimos versos feito por mim).

Dos sentimentos impulsivos, os únicos que me sobram são os de escrever, os de ler, os de ouvir Jorge Ben, Maria Bethania, Tim Maia, sentimentos que mesmo com pouca grana me leve à gastá-la com canetas e lápis, com breves momentos na internet ou com passagens de ônibus para me deslocar para a casa dos meus novos amigos e ouvir suas histórias.

A minha segurança me faz a cada dia não mais fazer questão de um currículo da universidade.

A minha segurança me faz arrumar pacientemente minha mochila e por fim, tão empolgado com sua organização, me faz colocá-la nas costas e flutuar pelas ruas de Uberlândia.

ESTOU VIVO DE UMA MANEIRA COMO NUNCA ESTIVE!

A poucos minutos vi uma bela enfermeira sair quase que correndo da sala de enfermaria por estar triste ante a obrigação de ter que trabalhar arduamente pela madrugada de sábado sem o seu consentimento.

É triste! Mas isso é a cidade. É a realidade das loucuras que a 3 meses atrás me dava a mesma sensação que as sentidas por aquela enfermeira. Queria poder olhar em seus olhos e escutar o que esta tem a me dizer, muito provavelmente com o escorrer de lágrimas. Mas acho que ela jamais se dará esta oportunidade. deixará esta angustia lhe remoer e abalar sua beleza nas sequências de infindáveis ocupações que destroem não só a ela, mas a todos nos espaços urbanos.

No parágrafo anterior esta carta deveria findar-se, no entanto me enganei sobre a possibilidade de conversar com a bela mãe. Mas, ainda que a conversa tivesse sido boa, bastou se retornar os chamados, os gritos de dores, para ela voltar para a fria noite do hospital.
Coelho
FLWS

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